DEUS SÓ ESTÁ PRESENTE SE TIVER DOIS OU MAIS REUNIDOS?  – MT 18.20

“Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.” Mt 18.19-20
Esse texto tem sido muito mal utilizado por muitos teólogos e pastores. Me lembro de inúmeras vezes aonde em estudos bíblicos em casa, ou em programações missionárias, o condutor cita esse texto, dizendo que Deus está entre nós porque têm mais de 2 pessoas no lugar. Mas será que foi isso que Levi queria dizer ao escrever essa parte em seu evangelho?
O grande problema dessa interpretação equivocada do texto são as implicações teológicas causadas por ela, como o fato de Deus perder sua onipresença, ou até uma problematização do que é culto e como ele deve ocorrer. Não posso cultuar sozinho? Deus não está presente quando eu oro em silêncio em meu quarto? Só há adoração no coletivo?
Diante desses diversos problemas devemos olhar com zelo o texto bíblico e buscarmos uma interpretação coerente com a mensagem e contexto do Evangelho de Mateus.
Primeiramente, temos que entender que Mt.18, está antes de um dos episódios mais importantes do ministério de Jesus, que foi a transfiguração (Mt. 17.1-8 ), e isso traz uma ótica diferente do texto, provavelmente explicando o fato dos discípulos questionarem Jesus de quem é o maior entre todos (18.1). O fato deles saberem (ou acharem) que Jesus é superior que a lei representada por Moisés, e que os profetas representados por Elias, levou à crença de que Jesus de fato é muito poderoso.
Todavia, mesmo diante do orgulho velado dos discípulos, Jesus mostra que de fato o “maior” é aquele que é pequeno, utilizando o exemplo das crianças. Quem quiser ser grande, primeiro se torne pequeno, humilde, reconhecedor de sua dependência, e só assim pertencerá ao reino.
Continuando a linha de pensamento, Mateus mostra que Deus cuidará dos seus filhos. Ai daquele que fizer um deles tropeçar, pois ele é o bom pastor e cuidará de cada ovelha que se desviar do caminho do reino. Porém e aquelas que se dizem ovelhas, pecam, são confrontadas individualmente, no coletivo e diante da comunidade mas não se arrependem de seu pecado, como lidar com elas?
Tudo indica que essa pessoa na verdade não faz parte dos habitantes do reino, pois elas ao contrário das crianças são autossuficientes. Logo, elas devem ser tratadas como gentios e publicanos (não cristãos), e essa autoridade Jesus deu a Sua igreja, que tem poder de ligar ou desligar pessoas do Reino de Deus. Afinal, é melhor ir cego ao céu, do que ter seus dois olhos ir para o inferno (18.8,9). O mesmo se aplica a essas pessoas que enganam e deturpam o nome de Deus e da igreja, é melhor arrancá-las da comunidade do que levar todos para o inferno.
E agora sim, vem os versos tão mal usados por alguns:
Sim, se dois ou três decidirem que tal pessoa deve ser desligada do reino, Deus desligará tal pessoa. Afinal, dois ou três pessoas se resume em testemunhas, pessoas que acompanharam o arrogante, que buscaram o arrependimento e depois de fracassarem decidem que o melhor a ser feito é excluir essa pessoa de sua comunidade e assim desligarem ela do reino dos céus.
Em resumo, Deus está em todos os lugares, e perto está dos seus filhos, mesmo sozinho ou em grupo, Deus está com você (Fp 4.5). Porém, Deus carimba a decisão de duas ou mais pessoas, quando e se necessário for, sobre a disciplina do pecador.
Assim:
1.Desligar a pessoa do reino é tirar a sua salvação, logo a salvação se perde?
Não, o próprio contexto mostra que as verdadeiras ovelhas são restauradas pelo bom pastor, aquele que não se arrependeu do pecado, demonstra que nunca se arrependeu para a salvação, logo, nunca foi de fato convertido, pois a salvação vem através da fé verdadeira que é demonstrada através do arrependimento (Ef 2; Rm 10; Jo 3; 1 Jo 1-3).
2.Igreja é lugar de acolher e não de expulsar?
Não, igreja é um lugar de acolher os perdoados e não os arrogantes. Igreja é lugar de perdoados e não de autossuficientes. O amor de Deus ao mundo foi manisfestado através do sacrifício do Seu Filho, Jesus (Jo 3.16). Aquele que desprezou o sacrifício de Cristo não é alvo do amor de Deus, eles não farão parte do reino de Deus, e a representação do reino de Deus na Terra é a Sua igreja (Mt 19; 1 Jo 5; Hb 10; Lc 16; Ap 21).

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